Apesar da longa distância entre o Brasil e o local da guerra, os impactos econômicos gerados a partir da invasão russa na Ucrânia produziram efeitos diretos até aqui. De acordo com o Celso Grisi, professor especialista em economia da Universidade de São Paulo, “O grande prejuízo é a alta dos preços internacionais em função das altas das commodities agrícolas, metálicas e energéticas. Tudo isso pressiona os preços, que acabam impactando nossa economia local”. Nesse sentido, para o agronegócio, há um aumento de custo ainda maior, uma vez que a Rússia é uma importante fornecedora de fertilizantes para o nosso país.
De acordo com o IPEA, a Rússia e a Bielorrússia juntas representam 30.5% das exportações de fertilizantes de potássio. O Brasil, grande figurante no agronegócio, é o maior importador, não apenas do total de fertilizantes, mas de cada uma das categorias de fertilizantes (nitrogênio, fosfato e potássio), seguido pelos EUA, Índia e China. Mais de metade dos produtos russos comprados pelo Brasil são fertilizantes de potássio, de nitrogênio, e compostos. Assim, o Brasil enfrentaria dificuldades de substituir o fornecimento desses dois países através de outros fornecedores, considerando o peso deles na balança comercial.
Além disso, de acordo com a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA), as safras de março desse ano deveriam durar até o mês de junho apenas. Além disso, a projeção de que o Brasil conseguisse substituir os fornecedores a tempo do plantio que começa no segundo semestre não seria favorável. Esse fator pode não apenas afetar os preços, mas também diminuir significativamente a colheita de 2022/2023 para alguns produtos – tanto em razão da redução da área plantada, quanto da redução de produtividade.
Outra consequência do conflito será nas importações de trigo. O Brasil é o quinto maior importador desse cereal no mundo e, mesmo buscando importações de outros países que não a Ucrânia, poderá ser indiretamente afetado pressão de preços que emergirá em países que fornecem a commodity ao Brasil, como a Argentina, que é responsável por 76,4% das importações brasileiras.
A Ucrânia, a Rússia e o Brasil são também grandes exportadores de milho. Com o conflito, a saca de milho de 60kg chegou a saltar de R$84,19 (nov/21) a R$99,69 (mar/22), afetando positivamente a produção do país. A safra de milho no Brasil em 2021/2022, apesar da queda da produção no sul do país, é esperada para ser quase 30% maior do que a última safra.
De todo modo, ressalta-se que não há medidas jurídicas relevantes tomadas no Brasil em relação ao conflito e, os impactos sentidos no Brasil serão quase que estritamente econômicos devido à grande distância geográfica e ao fraco alinhamento do Governo Brasileiro ao conflito.