O formato de jornada na qual se labora apenas 4 dos 7 dias de uma semana já vem sendo discutido desde 1950 por sindicatos de trabalhadores que se insurgiram contra a padronização do Fordismo de uma semana de segunda a sexta-feira, ou segunda a sábado. O tema permaneceu adormecido até 2020, quando sobreveio a pandemia do Covid-19, que fez com que alguns líderes reanalisassem a questão e encontrou enorme adesão nesse momento histórico. Nota-se que ambos os movimentos ocorreram em eventos mundiais capazes de quebrar paradigmas sociais, como pós 2ª Guerra Mundial e uma pandemia assoladora.
A semana de trabalho de 4 dias tem mais de uma forma de funcionar, que varia desde o modelo no qual se elimina 1 dia de trabalho, reduzindo-se as horas, até o formato que compreende horas de trabalho intensas nas quais o trabalho previsto para ser realizado em 5 dias é condensado em 4 turnos mais longos. O primeiro caso é o mais comum e mais fácil de ser implantado e gerido, mas ambos encontram meios de agradar os aderentes.
A maior vantagem vislumbrada principalmente pelos empregadores é o aumento da produtividade. Mas como ocorre esse fenômeno? Com menos tempo de efetivo labor, o executante das tarefas automaticamente se programa para organizar melhor o tempo e manter os prazos em dia, para que possa desfrutar da folga. Também porque, havendo mais descanso, imagina-se que a saúde mental seja mais bem preservada, em regra. Vários empregados que já aderiram ao modelo relatam que estão mais satisfeitos, concentrados e se sentem mais produtivos, de fato.
A partir de junho deste ano, está sendo feito um teste no Reino Unido com mais de 3300 trabalhadores de 70 empresas. Esse teste terá duração de 6 meses, e conta com a parceria de pesquisadores de grandes universidades como Cambridge, Oxford e Boston. Após ter tido boa aceitação em países como Emirados Árabes, Islândia e Inglaterra, já há empresas no Brasil implantando a semana de 4 dias, como por exemplo, setores da empresa de produtos para cachorro ZeeDog, da agência de comunicação Shoot, e a empresa de inteligência artificial Crawly, de Belo Horizonte.
Em que pese essa seja uma solução benéfica, não só para o empresariado, mas também para a classe trabalhadora, há de ser balizada com o giro da economia, de forma que haja contratação de maior número de empregados para que revezem em turnos e que nenhum horário comercial dos estabelecimentos deixe de ser atendido. Não se pode diminuir o fomento à economia apenas pela conveniência do empresário e do trabalhador. Se o impacto for a redução do atendimento ao público e da produtividade financeira, o benefício a curto prazo que está sendo enxergado por todos agora pode vir a se tornar um malefício.
Entretanto, se bem conduzido e bem gerido, pode culminar em dupla vantagem: agrado aos aderentes e aumento da empregabilidade. Esta última se pensada pela seguinte equação: diminuídas as horas de trabalho de cada um e mantido o horário de atendimento comercial, devem ser contratados mais empregados para fazer a mesma roda girar.
Quando a questão tem o poder de afetar a economia de um país e a ordem social do trabalho, deve ser regulamentada por lei, ainda mais por se tratar de um ordenamento jurídico positivista em regime “Civil Law”, como o Brasil. Apesar da necessidade, ainda permanece a lacuna da Lei, o que pode abrir precedentes para uma vertente vantajosa ou desvantajosa. Aguardemos os próximos avanços do Congresso nesse sentido.